Quando eu morrer
Como assim? Quando eu morrer? Quem disse que eu vou morrer? Claro, as leis do Criador são inexoráveis e dentre as que dizem respeito ao corpo físico estão aquelas que determinam para este um prazo de validade. Qual é o do meu? Não sei!
Certo é que, cedo ou tarde, esta matéria estará fria, sem vida. Enquanto isso não acontece, me esforço para cuidar dela com afinco. Não deixo também de oferecer-lhe minha imensa gratidão por tudo o que, como instrumento adequado que é ao mundo terreno, permitiu e continua permitindo-me viver, sentir e realizar.
Confio em Deus, em suas infinitas e justas Leis e terei o lugar que ao Seu juízo merecer. Isso, naturalmente, em função do que eu fiz enquanto estive aqui. Portanto, quando este corpo parar, não quero ninguém rezando, nem pedindo a Deus que me tenha em bom lugar. Não há necessidade da intervenção de terceiros, o Criador não precisa de testemunhas.
Também não quero saber de tristeza. Quase todos os momentos vividos com minha família, com os amigos, no trabalho (isso mesmo, no trabalho) e em tudo o que passei, foram permeados pela alegria. Por isso, não quero tristeza na minha despedida, que até prefiro que chamem de um até breve. Em vez de ficarem se perguntando: o que dizer numa hora dessas? Ou, o que é essa vida, hein?… Ontem mesmo ele estava aqui com a gente e agora está ai ó, durinho da Silva. Claro que ontem estava aqui, e anteontem também, ainda bem; que falta de assunto é essa? Outra coisa que não quero é gente falando: o que é que a gente vale, olha só! Porque eu valho muito, sei que sim!
Em vez de tristeza acompanhada destas reflexões (?) toscas, prefiro que tentem recordar momentos que viveram comigo, de preferência os mais agradáveis, os que tocaram nossa sensibilidade ou instigaram nossa inteligência, ocasiões nas quais aprendemos algo juntos, sobre a vida ou sobre nós mesmos. Esta será a melhor homenagem que poderão me prestar os meus amigos.
Por fim, não quero que chamem de velório, pois prefiro não ter velas por perto.
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